terça-feira, 3 de novembro de 2009
NANOCRÔNICA: COMO CONHECI M. M. B. du BOCAGE (e foi muito antes de JOHN CAGE)
(e foi muito antes de JOHN CAGE)
da minha infância querida de traquinas e feridas
lembro muito bem da habitual admoestação
professoral-maternal quando pego no flagra
de um palavrão ou de uma expressão chula
por demais da conta interiorana:
dos bons modos caipiras,
da boa educação católica e
dos caprichos burgueses da mamãe:
- vai já lavar a boca suja com água e sabão
seu sabujo de Bocage sem educação!
e foi assim que me foi apresentado
o senhor M. M. B. du Bocage.
e no mais, hoje, não falo mais...
apesar da minha veia satírica pulsar por demais!
jc.pompeu, nov 2009
POESIA: POEMINHA BESTIAL!
POESIA: POEMINHA BESTIAL!
já destoava na terna infância
aquela estranha feição gris.
já homem fora feito à têmpera
de afeto e, muito, muito alho...
um belo dia a mãe, sus/peito,
notara assim-assim o de/feito:
– meu filho, você está ficando...
grisalho!
meu/espelho/filho/meu sem jeito:
– cara! foi é muito, muito alho...
caralho!
do talho abril despedaçado
à culpa materna no ato falho
chorou um mar desvairado
na velha colcha de retalho...
e nunca, nunca mais na vida
se deu para o trabalho.
só a desventura à-toa
de que tais e quebra-galhos.
desde então, mãe e filho,
viveram a sós - em frangalhos,
alheados em si para sempre
que do azar do bug seminal
no clã da semente ancestral
mesclara alhos e bugalhos
à crise dos grisalhos.
jc.pompeu, out 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
HAICAI 121
haicai 121
fuga das abelhas
na crise climática sem fim
levaram a prima/vera...
jc.pompeu, out 2009
HAICAI DUPLO 120
haicai duplo 120
primavera é vera?
em verso/prosa/imagem
é virtual quimera!
primavera é vera?
em verso/prosa/imagem
é virtual miragem!
jc.pompeu, out 2009
HAICAI 113
e o
a
jc.pompeu, ago 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
sábado, 10 de outubro de 2009
NANOPOEMA: A GAROTA E O RITMO DAS ESTAÇÕES
(uma linda morena)
no inverno faz crochê
no verão farniente michê
na primavera é fresco buquê
já no outono: folhas secas caem.
jc.pompeu, mai 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
BRIGIT 13 (pose no ateliê de Rembrandt no anno da graça de 1636) Amsterdam
terça-feira, 6 de outubro de 2009
NANOBIOGRAFIA PRODUZIDA MUSICAL OFF-BROADWAY
my way
foi-se confusão de acasos
dos deuses dos diabos
briga de foice dark
na nessecidade
à ocasociocidade
das horas desditas
da paixão
aos spins de luz
e razão
the and
jc.pompeu, jun 2009
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
PROSA POÉTICA: O SER E O TEMPO
prosa poética: o ser e o tempo
Ela era linda. E rica. E sempre tão frágil.
Pegava gripe só de ler a previsão do tempo.
Se assistia a previsão na tv também o perigo.
Certa noite de chuva fria saíra pela cidade fluida.
Uma dança ondeante de pés encharcados entre pedras
e poças d’água da rua deserta. Noturna paisagem escorrida,
e agora, rasgada/atravessada/ferida por aquela vida apaixonada.
S/eu homem embarcara para sempre nas asas da quimérica desventura.
À luz dos postes de ferro en/acenava sua via-crúcis na passagem desvairada.
Sombra e contraluz desmoldava o ser agonizante daquela mulher des/fragmenta.
Ser se desmanchando spins banhada na soturna chuva fria de lavar as almas.
--------------------------------------------------------------e--------
Daquele inverno libertador do seu inferno de vida frágil: ela não passou.
Ou, passara como que um pássaro ferido sem sorte passara ao relento,
e, que depois, trans-acenderá no portal da felicidade do eterno retorno.
Não o.b.stante,
Ela era linda de morrer.
Tempo ruim.
(a findar os vindouros anos dourados dos últimos tempos da crise climática).
jc.pompeu, set 2009
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
POESIA: CEMITÉRIO DE POENTES
tingido/ungido/revelado/evocado
da infinitude cósmica do
-o-c-i-n-e-m-a-t-o-g-r-á-f-i-c-o-!
- crepúsculo dos
acabou de
jc.pompeu, ago 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
INSTALACION 109 SAO PAULO BRAZIL 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
PROSA POÉTICA: NÃO É SOPA NÃO!
Noite fria de chuva fina perto de fechar
a padaria chic dos Jardins.
Lá dentro uns gatos pingados outros pardos,
duas gatinhas, um gatão - todos -
agasalhados à frente da tendência fashion
que entram, compram e saem –
a vida em movimento sus/penso.
Alguns outros, sentados à mesa, a comer,
a tomar café gourmet e mais delicatéssen
e gostosuras que aquecem a alma... e,
não o.b.stante,
costumam destacar o traje gordo
e fomentar mais a indústria da cosmética.
Uma conversa calada ressoa espelhada
de duplos no salão elegante.
O ar deslocado dos empregados dispersivos
entre atender clientes blasés
e a rotina da arrumação e limpeza day after
antes da lotação noturna,
de modo que, na ânsia das horas mortas
do pão que o diabo amassou,
o indefectível volte sempre dá
o recado volte amanhã...
Janice (está lá no crachá de griffe)
irrompe no salão elegante -
iluminado de vidas espelhadas, de vidas espalhadas,
de vidas pilhadas -
com a bandeja de sopa, torradas, manteiga e sei lá namasque
para servir a madame acompanhada do marido de ar jovial.
E serve, no limite do adiantado da hora fria
e do ofício senac de servir.
E Danuza (o marido assim a chamara) vaticina:
“Meu amor, isso não é sopa...
Olhe essa consistência de creme!”
E continua, agora, para a garçonete:
“Meu anjo, eu pedi sopa!
Isto está cremoso longe de ser uma sopa.”
E pega a colher e testa a aparente cremosidade da não-sopa
na frente da Janice que responde educada:
“Minha senhora, é a sopa do cardápio que você pediu!”
Jane, para os colegas, é séria, profissa, calada.
Desfila uma elegância de altivez nativa.
Linda mulata que mora no Jardim Carumbé
sem calçadas de lama no pé.
Há quatro horas diárias de ônibus lotado
ida-e-volta sem revolta...
No meio desse dissabor,
Demétrio (a madame assim o chamara) de ar jovial
condescende um olhar cúmplice à madame e outro,
contemporizador com pitadas de libido,
a afro-descendente serviçal.
Desconcertante arte do possível na bananosa realidade.
Desde sempre.
Um pé no salão da casa grande outro na cozinha
que se completa depois com um pé na bunda da subclasse...
Desde sempre.
Demétrio de ar jovial sabe como foram ou são as coisas.
Só não sabia como, ou não lhe apetecia,
resolver a demanda gourmet
entre a insossa madame e a garçonete –
refém da sopa com cara de creme.
Janice, ainda pensou que só falta mais essa
pra apavorar seu longo dia.
Danuza insiste na crítica gourmet,
com pitadas de fina ironia
– zeitgeist da etiqueta do politicamente correto –
“Chocolate querida, sopa é líquida, é caldo!”
(citando no calor, sem saber, o sociólogo da modernidade Bauman).
“O quê?!? que chocolate?!? tá me tirando?
você pediu sopa de aspargos!”
Danuza, então, olhar petulante para o marido e pede:
“Amor, por favor, chama o gerente que a fulana aqui...”
E foi quando exatamente o caldo entornou de vez,
pois que, a garçonete entendeu muito bem o:
a fulana aqui...
e, fora de si, num átimo, estapeia com gosto
na cara da madame.
E revela-se o clímax-mote desta prosa poética:
“A madame que pedira sopa e tomou sopapo.”
Danuza sentada no chão, nocauteada.
Correria, Deus nos acuda!
Uns se aproximam, outros saem à francesa.
Os colegas rapidamente protegem a Jane
para o interior restrito da padaria.
Desapareceu pela porta de serviço.
A postos, o gerente Nilson e o segurança Delfim
precipitam no casal agredido
nos cuidados, na pronta intervenção-arte
e nos deixa dilsso! Enfim... É Brasil.
Entre choro e dor, Danuza pede seu advogado, seu médico,
sua mãe, e, creio, sua polícia, sua lei.
Foi assim criada e educada.
Demétrio de ar nem tão jovial pede calma e modos.
É bom nisso.
E intenta na conversa ab aeterno
com a madame nocauteada,
ao mesmo tempo em que assente
as manobras da padaria chic dos Jardins.
Um b.o. pode complicar mais a vida impune,
a cena bananosa,
pois que pode haver testemunhas de que,
antes do desatino,
houvera um crime de racismo.
Aparecerá a gente dos direitos humanos.
E é inafiançável e imprescritível
em tempos de reparação e audiência.
Além do que o assédio e a exibição da imprensa marrom.
Sensacionalismo de caras e bocas afeitos à subclasse.
É... Nada de b.o. se convence o casal injuriado.
Demétrio assente como sempre.
Danuza é choro, dor, vergonha, ódio contido.
Depois de um rápido telefonema,
o gerente mil desculpas e mesuras,
anuncia ao casal uma reparação à altura do grave acidente:
- o atendimento médico no Einstein
- a cortesia de um pacote turístico com spa sete estrelas
- o convite gracioso para se servirem da padaria por um ano
(incluído bebidas, vinhos, finas iguarias, importados)
Tudo às expensas da casa.
É o mínimo por fazer diante do dano lastimável.
Demétrio de ar jovial exulta do acerto de contas
na sua conta e risco
compactuado com os donos da padaria chic e,
de quebra, os sonhos da infância
a poder degustar a vontade,
agora, na faixa à moda da casa chic.
Danuza só queria ir para casa lamber
as feridas daquela noite dos trópicos.
Janice sumira da cena do flagra
pelos fundos protegida pelos colegas.
Já passou da hora adiantada de fechar
a padaria chic dos Jardins.
Uma noite fria de chuva calava
nas ruas de calçadas largas e de árvores.
(Janice, nesse fatídico dia, fora trabalhar
passada por demais de ser a última a saber
das fofocas e intrigas de que seu marido –
desempregado – estava de asas e papos pra cima
da loira da loja de 1,99 da sua rua).
(Danuza, nesse dia mundo cão, fora cear
passada por demais por saber em primeira mão
pela amiga-rival desde sempre do Sion
de que a amiga-rival ganhara finalmente da mãe
a bela casa de Nice).
(Sopa, segundo Wikipédia, é uma comida líquida ou pastosa...
considerada, por alguns pesquisadores,
como sendo o prato mais antigo do mundo).
(Aguardo ainda o parecer do Josimar,
o crítico de gastronomia).
(Demétrio de ar jovial, sempre que dá,
escapole pra padaria chic dos Jardins
pra ver Janice, Tereza, Marina... e, comer sonhos –
tudo – na faixa enquanto duro é a vida...).
jc.pompeu, agosto do freguês volte sempre 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
transe/unte 03
no
de
no
-
no
serem
de
daquela
na mega-cidade de
no
de
fica
do
dizem
no
fica
da
desta
anômala
anomia
an(a)-
a(n)-
-ã
a
transe/unte 04
transe/unte 04
eu
na consulta ao oftalmo
o tempo espera
na sala de espera
o tempo da espera
na medida distraída a fuçar
a rota caras de mil folheadas
de cabo a rabo
e
todo mundo estampado
no culto à exibição
com a cara de caras
um pastiche de aparências
caretas y caricaturas da edito/ria
traço pastel afetado
de postiças famas y dramas
à la Callas y caras em re/vista
caralhos!
¿por qué no te callas?
caracas!
menos mal que
nada de mal na minha vista
já os meus pontos de vista:
estão com a cara e coragem
pelo chá (de cadeira) y
do café con (bellas) piernas que
avista espreita e me encanta
(menos mal...)
na sala des/espera ânsia
na espera de novos tempos:
uma nova visão periférica
de natureza humana ancestral
contra o poder totalitário
da cega visão central
- miopia terminal –
meus olhos ardentes!
pimenta nos olhos de nosotros
é colírio cor-de-rosa que
fez d/efeitos (sinestésicos)
navistanamentenarevista
nas caras das gentes.
caralhos!
na rua albion ainda enxergo
a vida/urbe em movimento
des/focado...
jc.pompeu, ago de 2009
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
INSTALACION 46 ( los tres manillas ao sol farniente)
HAICAI 93
haicai 93
meninos de rua
de pé na rabeira do ônibus
a diversão é passageira
jc.pompeu, ago 2009
NANOCRÔNICA: MEL À BRASILEIRA
NANOCRÔNICA: MEL À BRASILEIRA
No portão da casa na periferia de São Paulo um tosco cartaz:
"Mel de Abelha
Mel Puro -
Toque a Campainha."
Pensei nos costumes (políticos) das terras brasilis e acrescentei,
" - se desejar:
Mel Batizado -
Bata Palmas!"
jc.pompeu, jun 2009
transe/unte 01
transe/unte 01
ela
um quadro na janela do ônibus
obra-momento – happening -
da vida em movimento
desperta prazer, amor, sofrimento
acende latente desejo
fugaz monumento
pintura viva
jazz tô lá
na cidade em transe infernal
instante existencial
loucura sinestésica de tarde asfixiante
escorre meu corpo/suor nauseante
no ônibus lotado do presente
streets & stress & strass & stretch
celulares & mp3s & mp4s & mpchatos
(made in china, é vero!)
meus olhos ardentes!
dela
um quadro na memória-trans-
transe/unte na cidade.
jc.pompeu, fev 2009
transe/unte 02
transe/unte 02
ela
vem lá toda apressada
sorrisorindo
correndo sem-calçada
pra tomar o ônibus lotado
da cidade estressada.
estampa um ar movento
sorrisorindo
ondeante instante
como o gato de Alice.
um piano animado
de música alegre
de/notas ligeiras
al dente da massa-bruta
as nuvens brancas são
passageiras.
jc.pompeu, jun 2009
[rede para o ócio merecido com vista para a transcendência do ser: que descanse em paz o bardo/coronel/senador]
HAICAI DUPLO 96
haicai duplo 96
dilúvio invernal
torrenteescorreanoite
lava as almas...
dilúvio invernal
torrenteescorreanoite
leva as almas...
jc.pompeu, jul 2009
HAICAI DUPLO 95
haicai duplo 95
anoiteachuvaaágua
a torrente escorre pelos ossos
líquida o corpo
anoiteachuvaaágua
a torrente escorre pelos ossos
lava a alma
jc.pompeu, jul 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
segunda-feira, 20 de julho de 2009
PROSA POÉTICA: PERDAS E GANHOS
PROSA POÉTICA: PERDAS E GANHOS
O amigo Edmar perdeu a vida
na estrada do pedágio
- de ônus e de ágios -
Certa vez pela vida (besta) perdera para mim:
uma lúdica disputa de lançamento de pedras
na rural estradinha da vadiagem.
Lancei a pedra redonda/achatada perfeita
pelos ares da parábola de uma tarde de verão.
E ganhei. Ganhei na medida arguta
dos olhos de paralaxe da distância selvagem
de nossa ontogênese animal.
Ganhei a tarde, o dia de verão, o mérito
por toda minha vida (besta).
Pobre amigo Edmar que perdeu mais uma...
No tempo da imanente viagem cósmica,
Big Bang, lancinante! pelo espaço/tempo,
de novo (mundo) nos encontraremos,
creio, pelo universo (besta),
no portal da estradinha da vadiagem
- atirando pedras voadoras de verão!
E dando muita risada
(no cosmo ecoando ar de criança)
no desafio/desatino que é a gênese
do universo em expansão, alucinante!
Cavalgando, então,
nós estaremos na sideral explosão!
A aventura de ser criança, ser amigo,
ser poesia, ser cosmo,
vai continuar...
Um dia...
jc.pompeu, mai 2009
quinta-feira, 11 de junho de 2009
PROSA POÉTICA: OUSADIA
PROSA POÉTICA: OUSADIA
- Nem ouse me deixar!
Dessa maneira ele encerrou
mais uma daquela premente discussão
na cama dos últimos tempos.
Nas profundas do diálogo emancipado ressoava ainda
o tom autoritário, machista, violento da ancestral colônia.
Falou olhando a bunda branca marcada dos tapas e do cu,
rosados e intumescidos, enquanto ela de quatro
esticava o corpo suado, branco como leite,
procurando sua calcinha
nos lençóis finos de cheiro amarrotado.
O marido falou na sua razão
e nas suas vontades impostas pelo casamento católico
de seis anos de amor, dedicação, respeito
à moda dos antepassados das minas geraes.
(Na verdade havia uma mulata agregada, cria da fazenda,
nessa crise familiar, mas que não era assunto de ninguém,
muito menos de mulher branca bem casada,
e muito menos ainda dessa prosa poética...).
Ela nunca ousaria. (Deixá-lo).
Por respeito à família e à religião casara virgem.
Tudo isso, depois dos estudos até o Normal
no internato Santa Dorotéia da capital,
como era o costume das famílias mineiras de rica tradição.
Fogosa sem noção da libido e de um certo Freud,
experimentara uma volúpia antológica de fantasias sexuais.
Lembranças desde seus seis anos de idade sem, no entanto,
nunca ter maculado sua pureza virginal.
Questão de honra e de obediência à tradição católica
dos pais queridos.
Suas brincadeiras, seus namoros, seus encontros
sempre foram com homens bem mais velhos. Alguns ilustres.
Contudo, tinha uma inocente autoridade
e maduro zelo moral na feição jovial
que nenhum de seus homens bem mais velhos
(alguns ilustres) nunca ousou ir além do sagrado tabu.
Nem pensar. Nenhuma esperança, nem promessa qualquer.
Satisfaziam-se, todos, abusados e carnais,
com a porção profana do belo e devasso corpo angelical
daquela virgem proibida
pela castidade do rito católico
e dos costumes arraigados das minas coloniais.
Quatro dias após aquela fatídica discussão do casal
e o contumaz ultimato,
ela o deixou.
Sem ousar nem nada. Ela fugiu silenciosa e triste
numa viagem secreta.
Deixara para sempre a rica e segura vida da província.
Nada quis, nada carregou, nada falou, nada cobrou,
nada pensou. Somente fugiu.
Fugiu acompanhada de um choro escondido. Sem lágrimas.
Um choro d’alma.
Partiu com suas economias amealhadas
e uma mala pequena de roupas
e coisas. Uns trens de estimação.
Partiu sem nem mesmo um endereço de destino na bolsa.
Partiu livre de tudo e de todos.
A pele branca macia como leite encorpado
da fazenda arcaica pingou de ônibus em ônibus,
de cidade em cidade, até um destino...
No porto de Santos alugara um quarto-sala espaçoso
de janelões para o vaivém do cais.
Nos altos do vetusto prédio de quatro andares
perto da aduana.
No térreo, um discreto escritório dos negócios de café
e um bar.
Havia outros moradores que pouco conhecia ainda
no furtivo vaivém da escadaria.
Ambiente familiar, de respeito, de homens,
de trajes gordos, de negócios.
De distintas e airosas mulheres.
De ansiedades e receios.
Por ora só conhecera madame Dafne, sua nova amiga e sócia
na vida...
Uma outra vida povoada de gente
estrangeira, passageira, aventureira
e solitária como ela.
Gente de ares cosmopolitas e impacientes.
Um mar de homens
de longitudes bíblicas, civilizadas, excêntricas,
desconhecidas, paradisíacas...
Habitantes de mil navios,
de milenares viagens por mares navegados,
de eternas partidas e chegadas
na companhia do sol nascente
e dos entardeceres de sangrias tingidas
da natureza indiferente à aventura humana.
Gente até do fim do mundo da seda de olhos puxados
nunca imaginados. (Numa cama...).
Sujeita da pele láctea marcada de carnes coradas
e dos cabelos castanho-claros cacheados
foi batizada e louvada de “a polaca da madame Dafne”,
ignorantes embevecidos do sotaque miúdo mineiro.
Era um novo mundo de fantasias e desejos.
Ali as falas, as palavras, então, eram muito poucas
e ininteligíveis como se,
uma babélica comunidade de estranhos seres sexuais.
Imperava a linguagem dos sentidos, do prazer, do erotismo.
A língua universal do prazer sexual.
Do sabor e saber de experiência
da vida errante.
Comprados a pesos e dinheiros em espécies variadas.
Primos-irmãos dos piratas e corsários dos navios fantasmas...
Nas terças-feiras tirava o dia em passeios
pelas praias de Santos e São Vicente.
Protegia o corpo leitoso na sombra das árvores,
por debaixo das marquises,
na sombrinha made in Japan.
E nos cuidados com o sol forte na pele sensível.
Sua cútis jovial.
Gostava do tempo nublado e até da chuva miúda.
Comia pastel com caldo de cana no Zé da China da esquina.
Tomava sorvete sentada na orla.
Avistava longamente, as saudades da sua minas interior
e o vaivém de navios na ponta da praia.
Na sessão da tarde divertia-se sozinha na magia do cinema.
A noitinha ia a missa. Variava pelas igrejas da cidade grande.
Cantava muito bem, com emoção,
quase um êxtase,
os hinos e as rezas sacramentais.
Nesse dia ia dormir mais cedo depois de jantar sozinha
no bar do seu prédio.
Freguesa que se tornara da lógica lusitana ilustrada
pelas famílias donas do bar:
Bar Pitalmeida, pintado na fachada histórica.
Já há dez meses na nova vida - semiclandestina -
das mulheres de vida fácil,
numa certa terça-feira de verão e muito calor criou coragem
e ousou como nunca ousara antes nas suas lembranças:
Acompanhada de uma colega de métier,
criou coragem e ousadia e também ficou
de maiô e chapéu na areia debaixo do guarda-sol.
Lá pelas bandas do canal 4 na praia do Embaré.
Que vergonha! Que frisson! Que festa de risos!
E de frescor infantil com sua amiga-puta
na praia - semidesértica - daquela manhã.
Nunca acreditou de que fosse capaz de tanta ousadia
na vida...
Vestida de maiô e chapéu ao sol far-niente
da praia de Santos!
jc.pompeu, jun 2009
sábado, 30 de maio de 2009
HAICAI 67
haicai 67
se espalhou na cama
uma voz de sono resmungou
- universo em expansão!
jc.pompeu, mai 2009
HAICAI DUPLO 68
haicai duplo 68
na porta do bar
cachorro dorme recolhido
refúgio dos vadios
na porta do bar
cachorro dorme recolhido
refúgio do alento
jc.pompeu, mai 2009
HAICAI TRIPLO 69
haicai triplo 69
madrugada bêbada
procissão serpenteia a vila
vagueio na neblina
madrugada bêbada
procissão serpenteia a vila
devaneio na esquina
madrugada bêbada
procissão serpenteia a vida
vagueio minha sina
jc.pompeu, mai 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
HAICAI DUPLO 64
haicai duplo 64
borboletas juntas
pares de leques voadores
acasalamento!?
borboletas juntas
pares de leques voadores
metamorfose!?
jc.pompeu, mai 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
HAICAI DUPLO 63
haicai duplo 63
estrada vermelha
a pé onde infinito avista...
sacode poeira!
estrada vermelha
a pé onde infinito avista...
um mar de poeira
jc.pompeu, mai 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
quarta-feira, 20 de maio de 2009
HAICAI DUPLO 55
haicai duplo 55
densamente bela
desfila pernas grossas
duas colunas gregas
densamente bela
desfila pernas grossas
colunas clássicas
jc.pompeu, mai 2009
HAICAI DUPLO 56
haicai duplo 56
na pia na festa
mãelescente tira o leite
seus seios doem
na pia na rave
mãelescente tira o leite
seus seios doem
jc.pompeu, mai 2009
HAICAI TRIPLO 57
haicai triplo 57
guia do amor
no parque villa-lobos
adestrando cães
amor e submissão
no parque villa-lobos
adestrando cães
amor e regência
no parque villa-lobos
adestrando cães
jc.pompeu, mai 2009
sexta-feira, 15 de maio de 2009
HAICAI 54
haicai 54
deus vilariño
revela transcendência do ser
na evocação do sagrado
jc.pompeu, mai 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
terça-feira, 12 de maio de 2009
HAICAI DOSE DUPLA 51
haicai dose dupla 51
ondeante no chão
surreal bigode negro
ar de taturana
ondeante no chão
espesso bigode negro
senão taturana
jc.pompeu, abr 2009
segunda-feira, 11 de maio de 2009
quinta-feira, 7 de maio de 2009
HAICAI 44
haicai 44
borboleta avoada
par de leque azul-marrom
olhar da coruja
(imensa)
jc.pompeu, mai 2009
HAICAI DUPLO 43
haicai duplo 43
no meio do caminho
chumaço preto ondeante
arde taturana
no meio do caminho
chumaço preto ondeante
ardor da taturana
jc.pompeu, mai 2009
quarta-feira, 6 de maio de 2009
NANOPOEMA: CONTRAPONTO I
NANOPOEMA: CONTRAPONTO I
a garota de collant branca
(manca)
e parece esbelta potranca
(manca)
jc.pompeu, mai 2009
NANOPOEMA: CONTRAPONTO II
NANOPOEMA: CONTRAPONTO II
(uma outra garota)
no inverno faz crochê
no verão procura um michê
na primavera faz lindos buquês
já no outono, as folhas secas caem
jc.pompeu, mai 2009
terça-feira, 5 de maio de 2009
AVISO AOS NAVEGANTES, DE EDGAR A. POE
"E nenhum poema será tão grande, tão nobre, tão verdadeiramente digno do nome de poesia quanto aquele que foi escrito tão só e apenas pelo prazer de escrever um poema."
Edgar Alan Poe