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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 03



microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca


03.


E achou o avô à toa na cidade no anjo celular. Mas, onde desceu do busão nem o sabia. Era hora de dar upgrade na memória do : o GPS.



jc.pompeu, fev 2010

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O ENGENHEIRO CHINÊS DA AVIBRÁS


O Engenheiro Chinês da AVIBRÁS

A notícia da volta da Avibrás que lhes adianto, não foi nenhuma granja estatal de aves ou de galinhas dos ovos de ouro... Pensando bem, talvez uns ovinhos dourados. Mas foi uma empresa que cresceu nos bndes da ditadura militar fabricando equipamentos de alta performance bélica que voavam pelos ares como é próprio da natureza das aves, mas não das pessoas...
A notícia trouxe a lembrança de que conheci na boêmia de sampa, no final the 90's pop&rock, um engenheiro eletrônico sino-brasileiro formado no ITA que, the 80’s club, (ouça aqui) trabalhou na Avibrás numa sigla da empresa, se me recordo, algo como "sistemas inteligentes de ogivas"... só me lembro bem que havia na sigla a palavra ... inteligentes!
Gostava de ouvir os causos etílicos do chinês, à época, já desligado da empresa e em vôo solo de galinha nos negócios de bugigangas eletrônicas da emergente comunidade chinesa.
Na Avibrás costumava viajar a trabalho para o Oriente Médio. Diversas vezes para o Iraque. Viagens que no meu imaginário esfumaçado pareciam cenas só lidas e assistidas em histórias de espionagem da guerra fria ou nos romances tipo John le Carré.
Suas missões para o Oriente árabe eram ricas de escalas e rotas pela Europa de destinos cruzados que somente lhe eram revelados em cima da hora ou durante o périplo secreto a serviço, se, na Inglaterra, de Vossa Majestade... Dizia que nessa época acumulava milhagens e mimos aéreos pra dar e vender...
Nessas viagens de traje executivo, eu percebi que ele era uma espécie de engenheiro de alta especialização com estafeta de confiança (de pasta de couro com segredo à mão) da organização corporativa. Tanto na ida como na volta, obrigatoriamente, fazia rotas e escalas em algumas cidades suíças... Algumas vezes, em outros pequenos estados europeus tipo paraíso fiscal. Dizia que era para fazer coisas rápidas e burocráticas da empresa...
Ele, na verdade, falava de muita coisa... mas, bebum! sabe como é que é: tem que se dar um desconto... Quanto mais alto da conta paga regiamente mais contava aventuras com lindas mulheres na companhia de colegas, compradores, oficiais, lobbystas e sei lá quem mais... Ele gostava de se programar com morenas voluptuosas mandonas e ruivas - ruivas branquelas com pintas. Sei lá das taras do china... Eu somente viajava na sua companhia loquaz (dizem que os chineses são os italianos asiáticos...) como se eu estivesse na leitura ou no filme de uma intrigante aventura de romance corporativo de espionagem e belas mulheres e paraísos de diversos tipos. Aliás, os paraísos terrenos na moda, são, na verdade, coisas tão antigas como os bíblicos.
No Iraque da época, costumava ter uma estadia mais longa na companhia de altos militares e homens do governo. Às vezes, rumavam para uma zona deserta (desculpem a redundância) de segurança máxima voando e comendo poeira bíblica por entre pedras dos caminhos da mesopotâmia – um dos berços da civilização - para realizarem testes e exibições de mísseis e equipamentos bélicos. Dizia que houveram vezes em que lá estava a presenciar os testes, o ditador Saddam Hussein e que ele, agora em traje de engenheiro de campo, tinha que dar explicações técnicas às perguntas do ditador sunita e do seu staff.
Vira-e-mexe, à mesa de bar, revoltava-se, com os olhos brilhantes e a boca ávida, a história de uma paradisíaca comemoração no máximo do luxo, da elegância e da safadeza chic by Paris dos ricos negócios internacionais (e, das longas estadias sabáticas do mestre Chico), por conta de um milionário contrato da sua empresa Avibrás com o beligerante governo do Iraque. Ele contava de coisas finas de comidas e iguarias, vinhos e flûtes, massagens e dengos, prazeres de uma única vida do engenheiro chinês... e, claro, lindas mulheres que somente muita grana, no caso, dinheiro vivo corporativo (ainda não havia essa coisa de cartão corporativo), pode possuir e realizar as fantasias e as taras do oriente de nós... tão parecidos quando sem as projeções de nossas couraças culturais.
Por uma eterna e única mil e uma noites do tempo de sonhos nos jardins suspensos parisienses do meu amigo de bar chinês. (nos cassinos e boates e prisões e templos do mundo é proibido perceber a passagem do tempo...).
Bem, certo ou errado - tanto faz como fez - que depois o ditador Saddam, como é típico do caráter de todo ditador imperial, seja ele compadre ou não, imbuído da rota retórica ideológica-religiosa do poder absoluto (em nome do pobre povo de Deus...) deu um bombástico calote no contrato bélico da Avibrás e do governo brasileiro. Mas isso já é outra história que não foi comemorada... é óbvio.
Era um china porreta de bom e amigo! Montou de graça e rapidinho meu primeiro computador. Um avião de veloz! By ITA made in China.
No entanto, perdi seu contato nas quebradas... e muito tempo depois, soube que emigrara para o Canadá onde, como sabemos, tem uma grande colônia chinesa. Soube também que foi para lá trabalhar, devidamente legal, com computação e programas de alta performance digital... e, deduzo eu, algum tipo de sistema canadense ou corporativo global inteligente... e inovador. O china era um solteiro inveterado. (essa informação aparentemente de mera fofoca maldosa... é importante, pois que lá fora, nos contratos de trabalho sem as amarras burocráticas da terrinha, o estado civil, por exemplo, define condições diferenciadas de salários, bônus, encargos e benefícios... define competitividade e agilidade, já que o sistema é capitalista de mercado para o bem ou para o mal... sem as meas culpas cartoriais das vontades absolutas do recente materialismo dialético no poder e do velho catolicismo instaurador do poder nas terras brasilis).
Como já disse, o engenheiro sino-brasileiro, amigo de copo, tinha formação de alto nível tecnológico de ponta de custo alto para o país que quer ser inovador e inteligente (veja bem: o país e não os pais ou mesmo a mãe-China ou mesmo o anfitrião legal! canadense)... tinha formação lá na excelência nacional politécnica do ITA - dos bravos militares brasileiros - e que, um belo dia... o amigo china pegou o avião pro Norte...
Veio à mente a velha canção do mestre Caymmi: "Peguei um ITA no Norte." (ouça aqui)

jc.pompeu, ago 2010

haicai 145


haicai 145

a bela samantha
torceu o pé na dança
por ora, samanca...

jc.pompeu, maio 2010

haicai duplo 158 (bashô)


haicai duplo 158 (bashô)

água
ex-tanque
que a rã! mergulha
barulho d’água

água estanque
que a rã! mergulha
barulho d'água

jc.pompeu, ago 2010

DICAS DE BELEZA FEMININA


Dicas de beleza feminina

"Beleza é transpirar o frescor da inocência pelo corpo sem a culpa do prazer na consciência. Se, o coração pulsa amor, alegria, ousadia, então:
é beleza pura."


jc.pompeu, filósofo de alcova, ago 2010

haicai 159


haicai 159

pipas
nuvens brancas
o vento é colorido

jc.pompeu, ago 2010

terça-feira, 27 de julho de 2010

Boa Noite, Pedro Maciel

Boa Noite, Pedro Maciel

Fiquei muito feliz pela generosidade, pelo reconhecimento, pelo entusiasmo, pela oportunidade...
Eu recebi o convite para a vernissa do seu livro: "Como deixei de ser Deus" na livraria da Vila Lorena.
Não lembro o que me impediu de ir... pois gosto de passear por livros e livrarias, de tomar vinho tinto (recomendação médica, rsrs), de ver gentes e voyeur mulheres e cenas, de estar e deliciar boutades e senso de humor, apesar da timidez e de um certo humor ácido que, às vezes, desanda... rs.
No entanto, duas semanas depois caí de pára-quedas numa fria noite nessa mesma livraria da vila, caí numa vernissa com palestra de um livro de coletânea de haikais... O pequeno auditório cheio para ouvir quatro autores da coletânea....
E, na ocasião, lembrei do seu livro ali lançado e procurei-o e não o achei... e perguntei enfático para a vendedora pelo seu livro ali lançado recentemente... ela pesquisou no computador e me disse que só por encomenda... não entendi o sumiço do livro recém-lançado... ela me explicou que é assim mesmo: a editora deixa em consignação uma quantidade e tal...
Objetei que o livro fora lançado ali há duas semanas atrás!!?! Que recebi o convite, mas não pude vir. Ela ponderou que, então, foram vendidos e não houvera ainda a reposição pela editora, pela distribuidora...
Tenho mania de pegar e folhear e ler aos pedaços e saltos os livros na livraria... e fiquei chateado. Não entendi essa política das editoras e das livrarias... Lembro que em outra oportunidade ainda procurei-o na livraria Cultura Nacional e também só por encomenda e tal... Não curto comprar pela Internet ou correio... Gosto do rito e do contato físico com o livro na livraria, na biblioteca.
Agora, nessa mesma noite da vernissa da coletânea de haikais, ocorreu um fato sui generis ali na livraria: como achei o vinho fraco e demorado por demais no piso da coletânea... Subi, curioso, uma escada (era minha primeira vez nessa loja) e, no topo, dei de cara com um garçom atencioso a servir generosas taças de vinho tinto...
Beleza! Mudei na hora de vernissa e me estabeleci naquele piso, superior em diversos aspectos...
Circulei receoso expressando naturalidade pelo terreno estranho e agitado de público jovem fashion e logo me refestelei estrategicamente num sofá atrás da mesa de autógrafos do escritor...
Observei distraído que não tinha nenhum livro sobre a mesa de autógrafos, nem algum monte de livros ao lado... não vi nada... mas também, estava mais focado no vinho tinto, nas formas e feições femininas, no desfile de beldades e gentes que dei pouca atenção ao fato... mas, de repente, ouvi o autor comentar alto para uma amiga:
Acabou meu livro na livraria! A editora deixou poucos livros...
Quem quiser meu livro autografado tem que trazê-lo de casa!!!
Ou tentar comprá-lo noutra livraria e vir para cá!!?

E ficou sentado na sua mesa com um lindo arranjo de flores, uma decorativa compota de tira-gostos, da qual me servia, educadamente, mas: sem os livros... e ria da sua sorte, da situação um tanto surreal:
Noite de lançamento de um livro sem o livro!!?!
Amigos, convidados, alunos, familiares, do autor, iam chegando e cadê o novo livro? Ganhavam abraços, beijos, explicações, risos, condolências... O escritor tinha ótimo senso de humor, resignado... e barba estudadamente por fazer.
Mais tarde, pedi para ver o livro – o livro avesso a lançamentos - nas mãos de uma consorte sentada no mesmo sofá... não lembro mais o título e o autor, mas lembro que era um livro de ensaios sobre modernidade, filosofia, psicanálise, arte... Lembro de ter visto Nietzsche e Foucault em alguns ensaios...
Lembro, também, que eu saí da livraria da Vila Lorena bem bebum!
Mas, feliz das doses de resveratrol na veia... e na faixa.
E sonhando - por ruas tortuosas suspensas na fria noite - com a boca jolie da morena de belas gargalhadas...
Abraços!
Prometo que ainda vou encontrar seu livro sumido numa dessas viagens livrescas e depois lhe escrevo...

jc.pompeu, jul. 2010 (o relato narrado ocorreu em out. de 2009)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O DIA EM QUE FELIPE MASSA...



o dia em que felipe massa
... de manobra imoral
massa podre de torta circense
não deixou que a experiência que nos passa...

veloz... tão veloz como uma vida
alçasse-o ao panteão dos ídolos no coração
da brava nação sennista.
daqui pra frente pode até ganhar... mas,
ídolo nunca mais será no coração brasileiro.
quando muito, um ídolo de barro,
ídolo bezerro de ouro...
simulacro do ideal heróico e da bela morte;
pois que vendeu a alma de vencedor ao diabo;
se rendeu ao deus mercado/audiência.
fez do mérito, da fúria, do talento, da vontade
mercadoria de si como persona do macacão
ilustrado de marcas&consumos&desejos.
se mandasse o engenheiro de recados a la mierda,
se fiel ao braço hábil e objetivo da gana de vencedor,
se mostrasse nos olhos reflexos o brio da nação,
se bradasse entre os dentes da viseira: "No pasarán!"
se, então, desse um olé! no espanhol e seu cavalo vendido,
e se finalmente, ganhasse o grid 

no grito e a/braço aguerrido da nação reunida na teve
seria, então,
a glória imortal que não tem preço nem vergonha nem desonra.
estaria, para sempre,
nos corações e mentes do povo brasileiro
mesmo que sem campeonato ganho, pois,
ganha estaria a razão de viver e o prazer de vencer;
ganho estaria mais um dia de trabalho digno

mais uma batalha na vida dura
como de tantos brasileiros heróicos sem nome:
só multidão e massa
... de manobra
massa do pão que o diabo amassou.
como disse o bruxo portenho:
"qualquer destino, por longo e complicado que seja,
consta na realidade de um único momento:
o momento em que o homem sabe para sempre quem é".
e que não me venham com desculpas e justificativas,
pois que, vou de Schopenhauer que, em passagem famosa,
escreveu:
"que não há ato,
que não há pensamento,
que não há doença que não sejam voluntários".

jc.pompeu, fatídico jul 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 08



microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

08.


O jovem impetuoso sedutor da periferia saiu quebrando regras com a mulher do preso da comunidade. Não voltou mais. Foi-se na moral do crime.

jc.pompeu, mar 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 16

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

16.


A afeição brotara na rede social. O encontro de olhares no café nervoso de se decepcionarem... Eu fui... de 140 toques de amor... Que mania!

jc.pompeu, abr 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 05

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

05.


Aquela escola de descaso dos governantes não ensina nada de nada ou quase nada de nada. E, o mais incrível: é que alguns teimam de aprender!

jc.pompeu, mar 2010

quarta-feira, 21 de julho de 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 13



microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

13.

Bebum! detona a teoria do caos de bar no calor da confusão e fusão da Coreia livre do acento nas ideias e assembleias do câncer totalitário.

jc.pompeu, abr 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

haicai 154


haicai 154

outono
céu azul
flecha de marrecos

jc.pompeu, maio 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 34



microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

34.

Na rua de boxes made in china a epidemia: posso ajudar!? O auge da praga foi ela: sentada no banco de perna cruzada lixando as unhas. Pode!?

jc. pompeu, mar 2010

segunda-feira, 28 de junho de 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 14

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca

14.


Einstein criança sofreu
bullying escolar.E correu para seu universo de equações e experimentos mentais.Quanta energia!Bem feito!Que buliram.

jc.pompeu, abr 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 21

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca.

21

Dilma sobe a serra dos tucanos e descortina nuvens, águias, vestígios de lula do pré-sal e as neves eternas. A temer as pedras de rola moça.

jc.pompeu, jun 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 04

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca.

04

Já entrara grávida no busão com um sanduíche de metro na caixa. Sentou no reservado de sanduba ao largo da vontade alheia. Viajei n’orégano!

jc.pompeu, mar 2010

microconto para twitter e orquestra de 140 toques da vida que nos toca. 09

microconto para twitter e orquestra de 140 toques
da vida que nos toca.

09

No aconchego do café da livraria espio a calcinha distraída e penso que se Deus criou o mundo o livro fez mil e umas sub/versões des’mundos.

jc.pompeu, maio 2010

sexta-feira, 30 de abril de 2010

haicai duplo 143


haicai duplo 143

o vento e a folhagem
enquanto brincam na mata
tecem o outono

o vento e a folhagem
enquanto brincam no parque
revelam o outono

jc.pompeu, abr 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Nuvem de Cinzas Expelidas pelo Vulcão da Geleira de Eyjafjallajoekull, na Islândia Cancela 17 Mil Voos.


nuvem de cinzas expelidas
pelo vulcão da geleira de
eyjafjallajoekull, na islândia
cancela milhões de voos
de aviões, pássaros, pipas,
cancela miríades de voos
de insetos e dos sonhos
de um planeta a salvo
da natureza objetiva
frente a ação humana
- projetiva e consciente -
na babel de palavras
da ilusão antropocêntrica.
jc.pompeu, abr 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

TRANSE/UNTE 07

transe/unte 07

chovia naquele inicio de noite fria que caia na megacidade ansiosa
– de gente indo e vindo – naquela terça-feira do trabalho para a casa
e da casa para o trabalho na incessante rotina da vida moderna
de estar em movimento acelerado por demais da conta.
entrei com fome, curioso e para me proteger da chuva,
naquela yakissobateria no bairro oriental da Liberdade.
na entrada do restaurante ou da lanchonete, não sabia como definir,
um segurança moreno forte; uma luminosidade clara e convidativa;
uma cozinha-aquário meio encardida com dois funcionários apertados;
as fotos ilustrativas das comidas com nomes e combinados e preços.
aos poucos, de ar deslocado, fui decifrando o oriente das coisas...
e, achei o meu norte de marco polo, e fui fazer o pedido e o pagamento no caixa, a qual raspava com os dentes o esmalte laranja das unhas:
- boa noite, quero este combinado de yakissoba, yakimeshi e 3 gyoza. os sucos são de frutas naturais?
- de fruta só suco de amora e laranja. respondeu a morena maníaca que retirara a mão da boca de raspar o esmalte laranja das unhas...
- e o de abacaxi não é de fruta natural? insisti afável.
- só esses dois que eu já falei. retrucou a morena maníaca das unhas com o esmalte laranja puídas do fim de semana passada...
- bem, vou experimentar o de amora. ao que ela aconselhou distraída:
- melhor não, está aguado. toma o chá gelado que está bom.
- então tá! de que sabor tem o chá?
- é sabor de benkey. e eu fiquei na mesma.
(mas tudo bem: ela tinha os seios firmes e pontudos, no decote generoso, apontados para mim).
- por favor, esta sobremesa de banana caramelada:
vêm quantas bananas?
- nenhuma...
- como assim!?!
- está em falta já faz um bom tempo. e emendou:
- olha, quando eu estou com vontade de comer banana caramelada eu subo ali no Banjo... é nesta mesma calçada ali na praça... e finalizou com o corpo levemente jogado para trás.
- mais alguma coisa? deu doze e setenta. quer hashi ou talher?
- os dois. e paguei com dinheiro e insinuei de sorriso afável:
- a propósito, hoje você está a fim de comer banana caramelada ali no Banjo? xavequei afável.
- não, hoje não vejo a hora de me mandar pra casa. quero dormir muito
e de manhã eu quero fazer as unhas lá no meu bairro. e continuou a prosa:
- aqui é caro demais fazer as unhas; custa o dobro do meu bairro... (pausa)
- eu gosto de ir lá no Banjo nas sextas-feiras. e sorriu e perguntou:
- seu nome?
- Pompeu, e o seu? nada disse e anotou meu nome na comanda e, então, disse:
- a garçonete irá levar seu pedido e chamar pelo seu nome...
lavei as mãos no banheiro ao lado e subi a escada para o recinto superior meio vazio.
procurei uma mesa de canto de grande angular à espera de ser anunciado pela garçonete.
uma tevê ligada na Globo noticiava as enchentes, os deslizamentos das encostas, o caos e as mortes das águas de abril do Rio de descaso e do mar de lama.
num outro canto, três velhos japoneses sorvendo ruidosa sopa de conversa zen. olhares dissimulados da fala baixa em japonês de risos contidos. suave.
no centro, uma senhora elegante japonesa cabisbaixa comendo hábil,
arroz branco, brócolis, legumes, peixe grelhado e chá.
no meio do recinto, de frente para a tevê, lado a lado no banco,
um jovem casal negro terminando de comer e começando a namorar...
a criança chinesinha, acompanhada dos pais e um irmão mais velho,
iniciou um berreiro na partilha da sua comida, que logo foi cessado
pela fala persuasiva da mãe chinesa. criança é tudo igual...
o pai chinês sorvia sua sopa fumegante com pedaços de tofu.
lá na mesa dos fundos, ainda monitorei três jovens, uma nissei, agitadas de barriguinhas de fora, no banco dependuradas comendo ao celular vibrante.
- Pompeu! a garçonete com a bandeja anunciou no topo da escada.
levantei a mão, ela me viu e repetiu:
- Sr. Pompeu! e dirigiu-se para a mesa a servir a minha comida
que depois saudou com um insosso: bom apetite.
levei uns três dias para comer com o hashi vacilante e falho em pegar
o yakissoba com sobra de molho gorduroso. outrora, na juventude cinemaníaca, que era comer com os pauzinhos dos filmes japoneses.
no entanto, tiveram seis vezes que fui muito hábil de pegar bons nacos de comida com o hashi malabarista e, foram então, os momentos de quando levantei a cabeça para os lados e mastiguei exultante e feliz da proeza.
eu só precisava de mais pegada, mais treino e mais paciência (oriental).
refleti otimista de que na vida nunca é tarde pra começar...
saciado ao mesmo tempo em que tenso da peleja com as boas maneiras à moda oriental, finalizei a batalha gastro-cultural: realizado da perseverança ou da minha teimosia ou, quiçá, de uma elevada provação do olhar estrangeiro cordial na São Paulo cosmopolita.
já na porta da rua, levantei a gola alta do casaco, mas, sem o démodé cigarro na boca e chapéu.
e saí na garoa soturna das ruas estreitas de sombras, luminosos, ideogramas, a fantasiar, a mistificar, a aventurar o outro lado do mundo da seda.
e lembrei do cronista João do Rio: “tudo na vida é ilusão e só a ilusão é verdadeira".
passadas aguadas e devagar, porém, firmes e fortes do ardil instintivo ancestral da postura animal de intimidar o inimigo na brutal selva urbana da sobrevivência.
caminhava molhado e teso, do perigo e do desejo, das luzes ofuscantes a piscar e atentar e, na ideia fixa: a enevoada dos seios firmes e pontudos da morena maníaca do caixa apontados para mim como que a intuir atração e sexo temperado pela culinária japonesa.
imaginava, ao andar na cidade suja, malcheirosa, abandonada pela civilidade, a sua boca nervosa raspando o esmalte laranja das mãos;
a sua boca gostosa de lábios carnudos torneados de tons de chocolate comendo as bananas carameladas do tal Banjo
ali na praça da Liberdade.
pensava que eu poderia ser a próxima vítima ou a próxima presa dessa fêmea: felina noturna atraente de dotes e fricotes, confinada fora ali no bairro oriental da cidade de onde se queixa ser caro pintar as unhas de beleza, de sedução, de sexo e procriação.
pass(e)ava pelas calçadas de antigas marquises decaídas da cidade sem memória, por entre papelões, carroças, restos de comida, agasalhos e trapos, restos de vida...
de mendigos e cães vadios ou de cães e mendigos vadios.
tanto faz na indigência atroz a viver e a respirar
– na passagem ali da megacidade que agoniza –
a mais verdadeira simbiose de amizade, de fidelidade, de amor
de uma vida de ralé: o mendigo e seu cão; o cão e seu mendigo.

jc.pompeu, abr 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

EMISSÁRIO DOS XAMÃS FRENTE AOS PACs DA VIDA...



emissário dos xamãs frente aos PACs da vida...


“A Natureza é objetiva e não projetiva;
porém, a ação humana é muito mais
uma atividade projetiva consciente
que objetiva”.
Jacques Monod, biólogo molecular e pensador francês, 
Nobel de 1965.


Quem será que está no controle:
a Natureza objetiva de 20 bilhões de anos…
Na existência de rios, vales, florestas, montanhas,
continentes, ilhas, nuvens, mares e oceanos, rochedos e geleiras, planícies, ventos, chuvas, climas, desertos, pedras, estrelas e galáxias, seres vivos, sociedades, inteligências, consciências...
E que pelo livre jogo de forças físicas e químicas universais a que não podemos atribuir, com certeza, nenhum projeto ou lei geral que seja, divino ou cósmico...
Ou os PACs e os projetos de uma vida... os projetos de mercado&consumo&ganância; os projetos de governança dos impérios globais de nosso efêmero momentum de ilusão antropocêntrica frente à Natureza objetiva "sem causas finais, nem causas eficientes, senão, o jogo do acaso e da necessidade"?
jc.pompeu, emissário dos xamãs, abril 2010

sábado, 3 de abril de 2010

haicai duplo 142



haicai duplo 142

feriado da paixão
sal/mão à mesa reunida
vê jesus na tevê

feriado da paixão
sal/mão à mesa reunida
vê jesus que te/vê

jc.pompeu, abr 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

novíssima poesia tcheca pós-união européia




foto by varal de idéias / eduardo p.l.

...a praga dos fu/turistas
na medieval ponte carlos...

jc.pompeu, mar 2010,
poeta da novíssima safra da literatura tcheca
no sol farniente exílio tropical

segunda-feira, 22 de março de 2010

CLONANDO PAULO COELHO

clonandopaulocoelho:"um concílio de bispos é o jardim florido do diabo". provérbio antigo citado por darwin

clonandopaulocoelho:"não crie inimigos sem necessidade, pois há dor e aflição que bastem no mundo". charles darwin

terça-feira, 16 de março de 2010

LULA E O TÚMULO SIONISTA

LULA E O TÚMULO SIONISTA
é um jogo do xadrez geopolítico global jogado
em cima da lápide de um velho túmulo judaico
da memória nacional coberto de folhas secas caídas
e pedras - caminhos e figuras de pedras;
à sombra de ciprestes, carvalhos, oliveiras, bíblicas...

(o diabo são os outros, à espreita, fazendo apostas).
por um lado, o governo brasileiro está correto
e protocolar em não mudar uma agenda
de visita oficial ao país anfitrião,
previamente combinada, e cuja visita, pós-improvisada,
não faz parte do cerimonial oficial de Israel
para outros governantes em revista.

não o.b.stante;
em Israel, o que não falta é muita pedra, areia e b.o.
espalhados nos antigos caminhos bíblicos da paz…


“no meio do caminho tinha um túmulo
tinha um túmulo no meio do caminho
tinha um túmulo
no meio do caminho tinha um túmulo.
nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha um túmulo
tinha um túmulo no meio do caminho
no meio do caminho tinha um túmulo”.
drummond revisitado

por outro lado, 5.000 e cacetadas de anos em hebraico...
da sabedoria judaica/rabínica/talmúdica,
o governo anfitrião, arguto e provocativo, desafiou
o governo brasileiro cheio de si, de sol,
de ré, de fá/lá/dó de mi, de claves e chaves e tons...

no “conserto” das nações des/unidas, desafiou-o
para uma singela provação estadista/realpolitik
do seu desprendimento, respeito, tolerância,
elegância, sabedoria mediadora, agilidade política
diante, de súbito, das decisões no meio de batalhas
- tão habituais da terra sagrada -
da arte da provocação/provação
de valores e gestos tão caros a um povo soberano…

foi só um ardil espinhoso da velha sabedoria
rabínica/talmúdica para saber como caminha
nosso autoprojeto de estadista global e
se está preparado/relacionado/intencionado
politicamente, para reger com a fina e ágil batuta
da inteligência diplomática o “concerto” das nações.


jc.pompeu, diplomata de quinta categoria, mar 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

FATO POÉTICO RELEVANTE


fato poético relevante


é quando estou feliz
nas nuvens
por nada
por tudo
por quase tudo
pelas gatas
as frutas frescas
na mesa
por mim
sem camisa
pelo jeito dela
assim assim...
yasmin
é quando estou feliz
nas nuvens

jc.pompeu, mar 2010

FATO CIENTÍFICO RELEVANTE


fato científico relevante


"um cientista não deve ter desejos, nem afeições - apenas um coração de pedra". charles darwin.

"vamos evitar o erro fatal de relacionar os resultados da investigação científica com os artigos de crença religiosa".

comunicação diretiva da sociedade geológica de Londres, 1857.

FATO RELEVANTE

fato relevante

"não existe fato, apenas interpretações".

friedrich nietzsche

quarta-feira, 10 de março de 2010

o que diria assis ao provar geléia de cassis?


o que diria assis ao provar geléia de cassis?


no olhar dissimulado
o
ar/dor de cotovelo
desenrola um novelo
a tecer um cachecol
um novo ponto fraco

(discutimos a relação)

a novela sem fim
ai de mim ai de ti
ai que treme tevê
ai haiti ai ai você...
capitulamos da ressaca
dos amigos de bar

(discutimos futebol)

das dores de amores
da penélope afro tecida
sua pele fina seda
a sede de prazer
vem cá/pitu lua nua
à nossa kama sutra
ah! deusa ancestral...
ah! paixão felina
ah! insônia de mitos
ah! sonho no sonho...

esfinge ensolarada
na manhã de verão
cotovelo na mesa
geléia no pão
manteiga derretida...
metade cassis outra damasco
nos lábios chocolate
odalisca liberta da assíria
cheia de si cheia de nãos
capricho civitas nas mãos
seios nus apontam no suco
a noite de sumos ardentes
e
no olhar lux de Borges
(meu mordomo imaginário)
o espírito do tempo aleph
- estou cá estais lá
pois sim
eu cego de amor universal
enquanto e/lá
dis/traída lê seu horóscopo
(é tudo verdade)
well well, welles
voilà!
jc.pompeu, mar 2010

segunda-feira, 8 de março de 2010

A MULHER DE LOT, A BÍBLIA, A CIÊNCIA E A POESIA DE ANNA AKHMÁTOVA

A MULHER DE LOT
A mulher de Lot, que o seguia, olhou para trás
e transformou-se numa coluna de sal.
Gênesis

E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
alto e brilhante, pelas negras montanhas.
Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
"Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar

as rubras torres de tua Sodoma natal,
a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
as janelas vazias da casa elevada
onde deste filhos ao homem bem-amado".

Ela olhou e - paralisada pela dor mortal - ,
seus olhos nada mais puderam ver.
E converteu-se o corpo em transparente sal
e os ágeis pés no chão se enraizaram.

Quem há de chorar por essa mulher?
Não é insignificante demais para que a lamentem?
E, no entanto, meu coração nunca esquecerá
quem deu a própria vida por um único olhar.

Anna Akhmátova, "Anna, a voz da Rússia - vida e obra de Anna Akhmátova"
de Lauro Machado Coelho com tradução de poemas do original russo.
a bíblia, a ciência e a poesia...

quarta-feira, 3 de março de 2010

NO CABARÉ VERDE

No Cabaré Verde
Cinco horas da manhã

Oito dias a pé, as botinas rasgadas
Nas pedras do caminho: em Charleroi arrio.
- No Cabaré Verde: pedi umas torradas
Na manteiga e presunto, embora meio frio.

Reconfortado, estendo as pernas sob a mesa
Verde e me ponho a olhar os ingênuos motivos
De uma tapeçaria. - E, adorável surpresa,
Quando a moça de peito enorme e de olhos vivos

- Essa, não há de ser um beijo que a amedronte! -
Sorridente me trás as torradas e um monte
De presunto bem morno, em prato colorido;

Um presunto rosado e branco, a que perfuma
Um dente de alho, e um chope enorme, cuja espuma
Um raio vem doirar do sol amortecido.

Outubro de l18l70

Arthur Rimbaud
tradução Ivo Barroso

HAICAI 141


haicai 141


de flor em flor erra...
traçando figuras azuis
borbole/teia da vida

jc.pompeu, fev 2010

POESIA : PERSONA FELINA

poesia: persona felina

acordo com a gata na cama
chamiando! chamiando!
olhar coruja rajada
ali me encarando...
no desacordo
de duas personas
eu desperto do sonho...
aahhh... mamamia mia gata
de que mistérios somos a vida?

jc.pompeu, fev 2010

segunda-feira, 1 de março de 2010

NANOCONTO: PESQUE&PAGUE


nanoconto: pesque&pague

- tá estressado? vai pescar!
brincou o amigo.
e ele foi pescar com traia e tudo.
mas...
ele estava estressado, mas estava tão estressado:
que na pescaria estressou os peixes...

jc.pompeu, fev 2010, Contos Fantásticos

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

o cisma do dia a dia ou de como germinam as sementes das guerras de intolerância e de religião e os holocaustos e as noites de terror e de matança em

o cisma do dia a dia ou de como germinam as sementes das guerras de intolerância e de religião e os holocaustos e as noites de terror e de matança em nome da fé e da verdade da palavra dos deuses...

Imaculada era vista como autêntica e bocuda entre seus pares da escola.
E por isso ela era tolerada, folclorizada e até admirada por algumas pessoas.
Naquele dia foram às compras no Brás, com a colega antípoda.
É sempre assim, os opostos se atraem...
Bateram pernas adoidadas pelas ruas de confecções, acessórios, presentes.
Até que numa loja de roupas finas se esbaldaram de tanto provar e se olhar no espelho e na opinião alheia... A ponto da autêntica Imaculada achar-se cansada de tantas idas e vindas do provador que passou a provar as blusas finas ali mesmo: no meio da loja movimentada.
A colega da rede queria sumir de vergonha...
Mas já estava acostumada com o modo de ser autêntica da Imaculada.
Finalmente fecharam as ricas compras naquela loja de roupas finas e a vendedora, profissional e gentil, agradeceu as clientes:
– Voltem sempre! Que Deus e Nossa Senhora vós acompanhem!
Ao que respondeu Imaculada, altiva e sonora:
– Deus pode vir, mas, Nossa Senhora... Pode ficar com ela!
E se despediram... A colega sem saber onde por o carão da bocuda.
A vendedora, coitada, ficou horrorizada com tamanha grosseria e ofensa à sua ecumênica gentileza.
Imaculada era autêntica evangélica.

jc.pompeu, fev 2010, Contos Fantásticos

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

haicai duplo 139


haicai duplo 139

e/ternas figuras
e esticou o pescoço...
e era modigliani

e/ternas pessoas
e esticou o pescoço...
e era modigliani

jc.pompeu, fev 2010

haicai duplo 138


haicai duplo 138

sede dos diabos
dentro do
busão lotado
lá fora, a chuva...

calor dos diabos
dentro do
busão lotado
lá fora, a chuva...


jc.pompeu, fev 2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

LA INVENCIÓN DEL PAISAJE 49


LA INVENCIÓN DEL PAISAJE 49


jc.pompeu, dez 2009

haicai 135


haicai 135

e o monge buñuel
no bar de fumaça surreal
hai!cai! de bunda no mel

jc.pompeu, fev 2010

haicai 133


haicai 133

cadê as abelhas?

cadê o vento sagrado?

cadê os deuses?


jc.pompeu, jan 2010

FELICIDADE

felicidade
"quando se quer ser feliz um copo de água faz a felicidade; quando não se sabe ser feliz um mar de água límpida nunca basta."
jc.pompeu, fev 2010

A ONDA DE CALOR

A Onda de Calor

Era uma onda de calor de muito calor na megametrópole caótica dos trópicos.
Temperaturas acima de 36º C na sombra sem brisa abafada por demais.
Crianças, velhos, obesos, grávidas morrendo na cidade e nos hospitais lotados...
Ela assistia na TV. Ela ouvia na rádio. A velha senhora, sozinha na sua casa simples de quatro cômodos, estava preocupada com o desatino desse tempo muito quente e sufocante de faltar o ar. E rezava e pedia a Deus e pensava...
Numa maneira de aliviar o calor extenuante, de se proteger desse clima diabólico e do pior de tudo: o medo da morte abandonada no calor infernal.
Heureca! Foi quando diante da sua assídua companheira, a TV ligada, sentiu um leve alívio, uma leve brisa, um friozinho nas mãos e no corpo suado, quando no zap maníaco de todo dia, a muda de canal foi para um que transmitia direto e ao vivo as Olimpíadas de Inverno de Vancouver.
Que coisa! No zap-zap, saia e voltava àquele canal de esportes estranhos. E repetia e repetia o zap-zap e mais sentia a diferença na temperatura da salinha mais fresca, mais agradável, mais geladinha, quando a TV ligada estava naquele canal de sempre frio, de sempre neve. Sempre não, porque via e sentia mudanças familiares quando entrava propaganda e intervalo.
Que coisa muito estranha! E resolveu testar e deixou naquele canal de colorido branco e de gente de óculos escuros encapotada de agasalhos e gorros. E foi deixando por ali e até deixou sem som e: não é que sua casa calorenta dos diabos derretendo em brasa ficara mais arejada, mais fresca, mais gostosa de ficar daquele calor insuportável lá de fora e dali de dentro... E ela ria de felicidade da casa geladinha, da sensação gostosa de uma fresca desse calor sem tréguas de castigo dos céus.
– Nossa Senhora! Meu Jesus! Que dádiva divina!
E rezou muito da graça alcançada. Fez novenas a sós. Trouxe a santinha do quarto para junto da TV ligada e refrescante como um oásis no deserto.
Sua casinha e sua vida estavam a salvo da onda de calor de muito calor dos diabos... Bastava a TV ligada nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver para experimentar um clima mais ameno, uma temperatura mais fria.
Era assim que o apresentador dizia nas transmissões ou, então, chamava mais curto de: Vancouver 2010!
Bem, o que importava era que lá do outro lado do mundo era inverno de muito frio e muita neve. E pela mesma TV que passava a palavra de Deus, também passava um pouquinho daquele frio salvador até a sua casa, o seu corpo aliviado do calor de morte. Achava que era isso... E ela estava salva da ira divina dos últimos tempos...
Desvario dela, que depois ria sozinha, foi no dia seguinte da casa feliz e refrescada do calorão e livre do medo de morrer assada que saiu pra rua e pra padaria quente como o inferno desse clima louco e que saiu da sua casa pra comprar pão e leite toda agasalhada!
– Meu Deus! Que doideira desse tempo que mexe com as idéias da gente.
E ria feliz e fresquinha, uma blusinha por cima do velho penhoar, sentada na frente da sua companheira ligada naquele canal milagroso da fé e do poder de Deus, o todo poderoso.
Enquanto isso, a TV mostrava lá fora, no zap-zap ligeiro pra espiar, o desespero, a loucura, a mortandade da onda de calor de muito calor a castigar a grande metrópole pecadora.

jc.pompeu, fev 2010, Contos Fantásticos

poesia japonesa...


poesia japonesa... do período edo/nista


era... um banho de
ofurô
com deixa oriental
e rito e reiki e o tao...
ah! belajapa26#
(pétalas róseas de seda meiji)
furou!
na suíte contemplativo...
restou
rosas&algas&saquês&auês
a queixa amargurado
de quimono forte
espada em riste
– um samurai irado –
cadê a tradição?

jc.pompeu, fev 2010

haicai 136


haicai 136

a noite relampeia

clareia nos miolos das nuvens

a idéia de chuva

jc.pompeu, fev 2010

haicai 131


haicai 131

chuva
ar/cai/ca
tamborilando na noite
canção de ninar

jc.pompeu, jan 2010