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sexta-feira, 17 de abril de 2009

ESTADO DE ESPÍRITO&POESIA&STRESS&STRASS&STREET

ESTADO DE ESPÍRITO&POESIA&STRESS&STRASS&STREET

"Dormir é a melhor coisa deste mundo. Nem leitura, nem diversão, nem uma boa mesa, nada se compara. Sexo então é fichinha perto. É um momento de magia quando você, só cansaço, cansaço da pesada, deita o seu corpo e a sua cabeça numa cama e num travesseiro. Ensaio, prosa, poesia, modernidade, tudo isso vai para o brejo quando você escorrega gostosamente da vigília para o sono. É o nirvana!"
Raduan Nassar

"Acordar, Viver
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea."
Carlos Drummond de Andrade

"Cancioneiro
Aqui onde se espera
- Sossego, só sossego -
Isso que outrora era,

Aqui onde, dormindo,
- Sossego, só sossego -
Se sente a noite vindo,

E nada importaria
- Sossego, só sossego -
Que fosse antes o dia,

Aqui, aqui estarei
- Sossego, só sossego -
Como no exílio um rei,

Gozando da ventura
- Sossego, só sossego -
De nada ter a amargura

De reinar, mas guardando
- Sossego, só sossego -
O nome venerando...

Que mais quer quem descansa
- Sossego, só sossego -
Da dor e da esperança,

Que ter a negação
- Sossego, só sossego -
De todo o coração?"
Fernando Pessoa

QUADRAS AO GOSTO POPULAR / FERNANDO PESSOA


Tenho uma pena que escreve
Aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve.
Se é verdade, não tem tinta.

No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar
Melhor é não ir ao baile
do que estar lá sem lá estar.

Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.

A vida é um hospital
Onde quase tudo falta.
Por isso ninguém se cura
E morrer é que é ter alta.

Não há verdade na vida
Que se não diga a mentir.
Há quem apresse a subida
Para descer a sorrir.
Fernando Pessoa

COMENTARISTA DE QUASE TUDO


E por falar em palavra e sua relação com o homem (não exatamente o Mainardi) rs., eis um fragmento deste artigo: "Notas sobre a experiência e o saber de experiência", de Jorge Larrosa Bondía citado daqui.

"E isto a partir da convicção de que as palavras produzem sentido, criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de subjetivação.
Eu creio no poder das palavras, na força das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e, também, que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-sentido, é algo que tem a ver com as palavras. E, portanto, também tem a ver com as palavras o modo como nos colocamos diante de nós mesmos, diante dos outros e diante do mundo em que vivemos.
E o modo como agimos em relação a tudo isso.
Todo mundo sabe que Aristóteles definiu o homem como zôon lógon échon. A tradução desta expressão, porém, é muito mais “vivente dotado de palavra” do que “animal dotado de razão” ou “animal racional”. Se há uma tradução que realmente trai, no pior sentido da palavra, é justamente essa de traduzir logos por ratio. E a transformação de zôon, vivente, em animal.
O homem é um vivente com palavra. E isto não significa que o homem tenha a palavra ou a linguagem como uma coisa, ou uma faculdade, ou uma ferramenta, mas que o homem é palavra, que o homem é enquanto palavra, que todo humano tem a ver com a palavra, se dá em palavra, está tecido de palavras, que o modo de viver próprio desse vivente, que é o homem, se dá na palavra e como palavra. Por isso, atividades como considerar as palavras, criticar as palavras, eleger as palavras, cuidar das palavras, inventar palavras, jogar com as palavras, impor palavras, proibir palavras, transformar palavras etc. não são atividades ocas ou vazias, não são mero palavrório. Quando fazemos coisas com as palavras, do que se trata é de como damos sentido ao que somos e ao que nos acontece, de como correlacionamos as palavras e as coisas, de como nomeamos o que vemos ou o que sentimos e de como vemos ou sentimos o que nomeamos."
jc.pompeu

HAICAI 15


haicai 15

poça de chuva fresca
pardal se esbalda n’água
estrada da alegria

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 16


haicai 16

no meio da mata
vibra chumaço de flores
um ipê amarelo

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI DUPLO (com foto) 18

praia de santos à noite, sao paulo 2008

hacai 18

mar vagueia ao luar
menino rodopia bike
ziguezague nas ondas

mar vagueia ao luar
criança brinca n'água
vaivém das ondas

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 26


haicai 26

cada mão uma filha
cada qual sua boneca
tal mãe tais filhas

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 20


hacai 20

elegante rolinha
desfila a beira da mata
de casaco marrom

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 19


haicai 19

encontro frustrado
folheia fnac a esmo
leite derramado

jc.pompeu, abr 2009

COMENTARISTA DE QUASE TUDO


Só chamo atenção para o fator de que as Chinas reunificadas, talvez mais Japão e Coréias, serão o novo Império da Terra, com o detalhe que será - a nação de olhos puxados mais poderosa do mundo - de um bilhão e cacetada de chineses e afins nacionalistas peculiares que comem de tudo que se mexa (na terra, na água, no ar), rumando, saltitantes nos tamancos de chapéu-chinês wok, do campo para a modernidade sol farniente de consumo tão ideologicamente cultivada e bem vendida pela América. Então, tudo que é característico e cultural da China será bem vindo neste Ocidente caindo pelas tabelas do mercado derivativo de apostas londrino no limiar da Era do Dragão do Sol Nascente.

Aliás, hoje, quase tudo de coisas e objetos mil já vem made in China.
É avassalador e não tem pra ninguém. Do aço ao $ 1,99, do mercado legal ao tráfico, do original ao pirateado, do leite em pó tóxico ao trabalho escravo, da cura do câncer ao comércio de órgãos humanos.
Eles só não tem, ainda, florestas virgens tropicais, água limpa abundante, onde colocar seu lixo comum e tóxico e não sabem, ainda, o que fazer com o povo tibetano oprimido, mas, tenho certeza, darão um jeito imperial nos problemas… E, como praga de gafanhotos, já invadem a mãe África, outrora esquartejada pelo colonialismo árabe-islâmico e europeu.
Não é por acaso que tomei estratégica decisão: estou tendo aulas de mandarim e filosofia confúcio-marxista, apreciando poesia haicai com grilo assado, cultivando novas amizades temáticas como o Zé da China, Liu Say Yam desta comunidade e outros oriundos da veneranda e vetusta nação do arroz. Acho que já é um bom começo…
Depois pode ser muito tarde. Meu próximo passo será me tratar com medicina chinesa e acupuntura milenar. Só não vale agulha no olho.
jc.pompeu, abr 2009

CRÔNICA: COMO PAROU DE FUMAR

CRÔNICA: COMO PAROU DE FUMAR

Fumava desde os treze anos na escola.
Hoje tem quarenta e seis anos, não parece.
Parou de fumar aos quarenta e três, de súbito.
Sempre fumara com prazer, sem receio, sem remorso.
Era bem informado dos males do cigarro e de muitos outros males dessa vida.
Conselho, pressão, aporrinhação, mau-hálito, unha amarelada, câncer, coração, morte, opinião pública. "Meu filho, você queima dinheiro", dizia-lhe a mãe. Tudo em vão.
Nada limitava seu vício lúcido, seu prazer sem medo, sua felicidade existencial.
Era sua dose de nirvana de todo santo dia. Paga com seu trabalho, seu dinheiro.
Nunca diagnosticara nicotina, alcatrão, fumaça tóxica, arsênico, carvão ou o que mais produzia fumar no seu corpo: pulmão, sangue, pele, boca, nariz, coração... Pra que? Indagava com convicção.
Só o sabor extasiado da tragada lenta e profunda na mente. Sabia fumar com classe. Era feliz.
A referência ideológica do cigarro sempre acompanhara com dedicação, com capricho.
Muita atenção no gestual da persona fumante. Nos filmes que adorava assistir na sessão de cinema da tarde vazia se deleitava e aprendia com lindas atrizes e viris atores em magistrais e, por que não, sensuais, closes de cigarro, mão, boca, isqueiro, tragada, fumaça noir. Encantava-se na sedução de gesto, jeito, pose dos ídolos. E lá estava o inefável cigarro coadjuvante no papel à medida da indústria cultural do tabaco.
A vida só valia viver bem vivida se: um cigarro antes, outro durante, outro depois.
Senão, pra que viver. Filosofava pela causa tabagista.
Sua formação, sua personalidade, quiçá, seu caráter, moldaram-se na companhia inseparável do cigarro. Seu melhor amigo. E creio, conselheiro espiritual na cotidiana reflexão envolvida pela etérea fumaça azul.
Sem um cigarro entre os dedos não existia para o mundo. Sem ele nos lábios não havia trabalho. O maço e o Zippo sempre no bolso eram sua segurança fundamental.
Creio que não seria exagero lhe parodiar famosa reflexão: “Fumo, logo existo.”
Então, um belo dia, a tragédia invadiu sua vida. Do nada, do mero acaso, do caprichoso descuido banal, de uma cilada do destino atroz.
Lia insone na cama com abajur, cigarros, cinzeiro, isqueiro e lápis na mão.
Entre uma tragada e outra, lia, e fazia anotações no livro com o lápis. Gostava de ler. E grifar e escrever nas bordas dos livros. Vício antigo dos tempos de ginásio.
Formas parecidas e ágeis entre os dedos.
De repente, o maço quase vazio. Levantou-se ansioso, se vestiu correndo e saiu na noite paulistana para comprar um pacote. Naquela época, tinha que andar um pouco pela noite vazia, mas sempre encontrava-se a boêmia acolhedora dos náufragos da vida. E o precioso cigarro.
Na volta, sua casa pegando fogo. Em chamas na madrugada crepitante. Horror, horror, horror...
Os gritos da vizinhança, polícia, corpo de bombeiro, curiosos. Confusão e balbúrdia. Muita água e lama em meio a fachos de luz, a nervosos giroflex vermelhos, aos clarões vacilantes do fogo.
Sua perícia mental, horrorizada, deduzira que marcara o livro com o cigarro aceso e colocara o lápis no cinzeiro. Oh, miséria miserável da troca fatal!
Perdera a mulher amada e a filha única de dois anos. Suas deusas na terra.
Na operação rescaldo da vida arruinada, finalmente, parou de fumar aos quarenta e três anos de súbito para penar uma vida maldita de castigo eterno.
Fora mais uma vítima trágica do vício de fumar.
Hoje só alivia sua dor tabagista o vício da bebida de bar em bar de todo dia.
Apesar dos pesares, sem perder a classe. No maior estilo de vida (arruinada).
Triste sina de uma vida condenada pelo vício adolescente da tarde vazia de cinema e ideologia.
jc.pompeu, mar 2009

HAICAI 22


haicai 22

no farol verde
cachorro puxa seu dono
desenho animado

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 21

haicai 21

no bar a fumar
etérea fumaça azul
sabor de buñuel

no bar a fumar
etérea fumaça azul
saber de buñuel

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 23


haicai 23

gato na calçada
espreita o movimento
vida curiosa

jc.pompeu, abr 2009

HAICAI 24


haicai 24

garota sensual
arqueada da mochila
corres por que?

jc.pompeu, abr 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

POEMA: O QUE DIRIA ASSIS AO PROVAR GELÉIA DE CASSIS?

POEMA: O QUE DIRIA ASSIS AO PROVAR GELÉIA DE CASSIS?

no olhar dissimulado
a dor de cotovelo
desenrola um novelo
(discutindo a relação)
novela sem fim
aí de mim ai de mim
capitulamos da ressaca
das dores de amor
capitu sua nua
nossa kama sutra

esfinge ensolarada
da manhã de verão
cotovelo na mesa
geléia no pão
(com manteiga)
metade cassis outra damasco
odalisca liberta da assíria
no olhar lux de borges
cego de amor universal
(é tudo verdade)
jc.pompeu, abr 2009