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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A ONDA DE CALOR

A Onda de Calor

Era uma onda de calor de muito calor na megametrópole caótica dos trópicos.
Temperaturas acima de 36º C na sombra sem brisa abafada por demais.
Crianças, velhos, obesos, grávidas morrendo na cidade e nos hospitais lotados...
Ela assistia na TV. Ela ouvia na rádio. A velha senhora, sozinha na sua casa simples de quatro cômodos, estava preocupada com o desatino desse tempo muito quente e sufocante de faltar o ar. E rezava e pedia a Deus e pensava...
Numa maneira de aliviar o calor extenuante, de se proteger desse clima diabólico e do pior de tudo: o medo da morte abandonada no calor infernal.
Heureca! Foi quando diante da sua assídua companheira, a TV ligada, sentiu um leve alívio, uma leve brisa, um friozinho nas mãos e no corpo suado, quando no zap maníaco de todo dia, a muda de canal foi para um que transmitia direto e ao vivo as Olimpíadas de Inverno de Vancouver.
Que coisa! No zap-zap, saia e voltava àquele canal de esportes estranhos. E repetia e repetia o zap-zap e mais sentia a diferença na temperatura da salinha mais fresca, mais agradável, mais geladinha, quando a TV ligada estava naquele canal de sempre frio, de sempre neve. Sempre não, porque via e sentia mudanças familiares quando entrava propaganda e intervalo.
Que coisa muito estranha! E resolveu testar e deixou naquele canal de colorido branco e de gente de óculos escuros encapotada de agasalhos e gorros. E foi deixando por ali e até deixou sem som e: não é que sua casa calorenta dos diabos derretendo em brasa ficara mais arejada, mais fresca, mais gostosa de ficar daquele calor insuportável lá de fora e dali de dentro... E ela ria de felicidade da casa geladinha, da sensação gostosa de uma fresca desse calor sem tréguas de castigo dos céus.
– Nossa Senhora! Meu Jesus! Que dádiva divina!
E rezou muito da graça alcançada. Fez novenas a sós. Trouxe a santinha do quarto para junto da TV ligada e refrescante como um oásis no deserto.
Sua casinha e sua vida estavam a salvo da onda de calor de muito calor dos diabos... Bastava a TV ligada nos Jogos Olímpicos de Inverno de Vancouver para experimentar um clima mais ameno, uma temperatura mais fria.
Era assim que o apresentador dizia nas transmissões ou, então, chamava mais curto de: Vancouver 2010!
Bem, o que importava era que lá do outro lado do mundo era inverno de muito frio e muita neve. E pela mesma TV que passava a palavra de Deus, também passava um pouquinho daquele frio salvador até a sua casa, o seu corpo aliviado do calor de morte. Achava que era isso... E ela estava salva da ira divina dos últimos tempos...
Desvario dela, que depois ria sozinha, foi no dia seguinte da casa feliz e refrescada do calorão e livre do medo de morrer assada que saiu pra rua e pra padaria quente como o inferno desse clima louco e que saiu da sua casa pra comprar pão e leite toda agasalhada!
– Meu Deus! Que doideira desse tempo que mexe com as idéias da gente.
E ria feliz e fresquinha, uma blusinha por cima do velho penhoar, sentada na frente da sua companheira ligada naquele canal milagroso da fé e do poder de Deus, o todo poderoso.
Enquanto isso, a TV mostrava lá fora, no zap-zap ligeiro pra espiar, o desespero, a loucura, a mortandade da onda de calor de muito calor a castigar a grande metrópole pecadora.

jc.pompeu, fev 2010, Contos Fantásticos

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